1 de março de 2007

Telê Santana

Vinte e seis de Julho de 1931, nascia na cidade de Itabirito, Minas Gerais, Telê Santana da Silva, ou apenas Telê Santana. Me arrepio ao escrever esse nome... Começou sua carreira aos 14 anos, no time de sua cidade, o Itabirense, e em seguida para o América, de São João Del Rei. Ainda um jogador juvenil, conseguiu ser aprovado num teste para jogar no Fluminense em 1950, onde veio a assinar seu primeiro contrato profissional em 1951, dirigido por Zezé Moreira, ano em que viria a conquistar seu primeiro título, o de campeão carioca, marcando incluvise 2 gols no jogo decisivo frente ao Bangu.

O Fio de Esperança, apelido de Telê, surgiu com um concurso sugerido pelo jornalista Mário Filho, entitulado: "Dê um slogan a Telê Santana e ganhe 5 mil cruzeiros". Venceram 3 apelidos, mas o que caiu nas graças da torcida foi Fio de Esperança, que fazia alusão aos seus apenas 57 quilos. Telê não teve oportunidades de brilhar na seleção brasileira, pois disputava vaga nada mais nada menos do que com Julinho Botelho e Garrincha. Ai complica!

Iniciou sua carreira que, por incrível que pareça, fora ainda mais vitoriosa, a de treinador, em 1967, como técnico do juvenil do Fluminense. Dois anos mais tarde, ganharia seu primeiro título no time principal do Fluminense. Daí pra frente, meus amigos, prepare-se para ler uma das carreiras mais vitoriosas da história de um treinador.

Só para se ter uma idéia da capacidade do Mestre, ele conseguir ser campeão estadual nos 4 principais centros futebolísticos do país: Campeão Carioca pelo Fluminense em 1969; Campeão Mineiro pelo Atlético Mineiro em 1970 e 1988; Campeão Gaúcho pelo Grêmio em 1977(interrompendo uma sequência de 8 títulos do Internacional) e Campeão Paulista pelo São Paulo em 1991 e 1992. E ainda há quem conseguia chamá-lo de pé-frio...
Em 1971, no primeiro ano de Campeonato Brasileiro, leva o Atlético Mineiro ao título, num triangular disputado com as equipes do São Paulo e do Botafogo. Vale lembrar que Telê tinha até então 4 anos de carreira apenas.

Foi campeão Árabe em 1983, da Copa do Rei Árabe em 1984 e da Copa do Golfo em 1985, todos pelo Al-Ahly, do Egito. Fico imaginando aqueles jogadores árabes recebendo instruções do Mestre, ainda mais depois do time que ele montou na Copa de 82. E atualmente, Sul-Africanos receberão instruções de Parreira... é, quase igual.

Voltando para a civilização, falemos um pouco sobre as Copas de 82 e 86, copas que renderam a absurda fama de pé-frio ao Mestre, mas enfim, coisa de brasileiro, povo de mentalidade pequena, que só interessa o título, que dá mais valor ao futebol pragmático jogado em 94 do que ao vistoso futebol de 1982. Feliz são meus pais, que viram essa Copa, preferia que essa seleção tivesse ganho e eu não tivesse visto do que ter visto o título de 94, sem tirar os óbvios méritos de jogadores como Taffarell, Dunga, Branco e Romário.

Na Copa de 82, na Espanha, gostaria de começar citando os atletas que formavam a seleção nessa copa: Carlos, Paulo Sérgio e Waldir Peres; Edevaldo, Leandro, Júnior e Pedrinho; Edinho, Juninho, Luizinho e Oscar; Batista e Toninho Cerezzo; Dirceu, Falcão, Paulo Isidoro, Renato, Sócrates e Zico; Roberto Dinamite, Serginho e Éder. Precisa algum comentário?
Me dá angústia imaginar um meio-campo com Falcão, Sócrates e Zico e saber que não presenciei isso. Era uma seleção renomada, mas não uma seleção que jogou apenas com o nome, como a de 2006, todos ali faziam justiça ao nome, e jogaram simplesmente um futebol perfeito. Não há uma pessoa, mesmo italianos, que achem a seleção da Itália mais forte do que a seleção brasileira de 82. Futebol felizmente não é uma ciência exata, mas pra essa seleção de 82 bem que poderia ser, porque não haveria no mundo que nos batesse. Enfim, coisas do futebol.

Na Copa de 86, no México, a seleção esteve longe de apresentar o mesmo futebol de 82, mas ainda sim contava com atletas de respeito, como Leão, Edinho, Oscar, Júnior, Falcão, Sócrates, Zico, Careca e Casagrande. E novamente, de forma novamente inexplicável, perdemos, dessa vez para a França, nos pênaltis, após empate por 1 x 1 no tempo regulamentar, nas quartas-de-final. Pronto, foi o suficiente para uma chuva de críticas ao Mestre, sendo motivo de chacota dentre a mídia brasileira. Mas a volta por cima é sempre prazerosa.

1990, Telê Santana, demitido do Palmeiras, assume o São Paulo Futebol Clube, no lugar do uruguaio Pablo Forlán. Sem muitos recursos, apostou em jovens jogadores como Raí, Leonardo, Cafu, Antônio Carlos e Elivélton. E já em 1990 conseguiu uma final de Campeonato Brasileiro, perdendo a final para o Corinthians.
Em 1991, com um time mais entrosado e mais experiente, Telê Santana leva o São Paulo ao seu 3° título nacional, vencendo o Bragantino na decisão, o que leva o São Paulo a disputar a Libertadores de 1992.

Libertadores da América, 1992. O São Paulo, até então jamais campeão do torneio, disputa a primeira fase juntamente com Criciúma, San José e Bolívar, obtendo 3 vitórias, 2 empates e 1 derrota. Nas oitavas-de-final, duelo frente ao Nacional, e duas vitórias: 1 x 0 fora e 2 x 0 em casa.
Nas quartas-de-final, um duríssimo duelo novamente frente ao Criciúma, que havia vencido o São Paulo por 3 x 0 na primeira fase. No Morumbi, vitória por 1 x 0, e em Criciúma, empate de 1 x 1.
Nas semifinais, uma tranqüila vitória de 3 x 0 sobre o Barcelona do Equador, e no jogo de volta derrota por 2 x 0. São Paulo, dirigido por Mestre Telê Santana, numa final de Libertadores novamente. O adversário: Newell's Old Boys, da Argentina.
Primeiro jogo na Argentina, e vitória do time da casa, 1 x 0. Segundo jogo no Morumbi, para um público de mais de 105 mil pessoas, o São Paulo devolve o 1 x 0, e a decisão vai para os pênaltis. São Paulo vence por 3 x 2, e Gamboa, zagueiro argentino, deve sonhar com o monstro Zetti até hoje.

Time-base:
Zetti, Cafu, Antônio Carlos, Ronaldão e Ivan; Adílson, Pintado, Raí e Palhinha; Müller e Elivélton. Vaga no Mundial Interclubes garantida.

Mundial Interclubes, 1992, Tóquio. São Paulo x Barcelona, Barcelona x São Paulo, um jogo simplesmente histórico, ambos buscando seu primeiro título mundial. O Barcelona ostentava um elenco repleto de craques como Zubizarreta, Stoichkov, Koeman, Beguiristain e Michael Laudrup, sem contar Johann Cruyff como treinador. Lembro-me perfeitamente, morava num prédio no Centro, meu pai me acordando, se não me engano eram duas da manhã, e nós assistindo ao jogo, meus berros, finos, mas apaixonados, com o gol antológico de falta do Raí, realmente no ângulo, sem a menor chance para Zubizarreta. O São Paulo, sob o comando do "pé-frio" Telê Santana, conquistava o maior título de sua história. O São Paulo era o mais novo Campeão Mundial.

Times-base:
Barcelona: Zubizarreta, Ferrer, Koeman, Guardiola e Euzébio; Bakero, Amor, Witschge e Beguiristain; Stoichkov e Laudrup. Téc.: Johann Cruyff.
São Paulo: Zetti, Vítor, Adílson, Ronaldão e Ronaldo Luís; Pintado, Cerezo, Raí e Cafu; Palhinha e Müller. Reservas: Marcos, Válber, Dinho, Catê e Elivélton.

E só para constar, em 92 o São Paulo fora campeão paulista também, numa final disputada contra o Palmeiras, 7 dias após o jogo contra o Barcelona. E que venha 1993!

Libertadores da América, 1993. O São Paulo, como atual campeão, não precisou disputar a primeira fase da competição, entrando somente a partir das oitavas. E de cara um velho conhecido: o Newell's Old Boys, jurando vingança. No primeiro jogo, parecia que iriam conseguir, vencendo o São Paulo por 2 x 0. Mas no Morumbi, um sonoro 4 x 0, e outra vez o São Paulo era o pesadelo dos Meninos Velhos.
Nas quartas-de-final, um doméstico confronto contra o Flamengo. No Maracanã, após jogar infinitamente melhor que o adversário, o São Paulo apenas empata com o Flamengo por 1 x 1. No Morumbi, vitória por 2 x 0.

Na semifinal, o primeiro jogo seria no Morumbi dessa vez, por obras da CONMEBOL. Vitória sofrida, 1 x 0 frente ao Cerro Porteño. E no segundo jogo, em Assunción, brilhou novamente a estrela de Ronaldo Luis, ao salvar um gol do adversário em cima da linha, feito que ele já havia realizado contra o Barcelona e na final do Paulista contra o Palmeiras no ano anterior. 0 x 0, São Paulo na final novamente.
Na final, o adversário seria o Universidad Católica, do Chile. Pobre Católica, levou um vareio do time comandado pelo Mestre, 5 x 1, o maior placar de uma final de Libertadores, título praticamente garantido, só restava ir ao Chile cumprir tabela. Derrota por 2 x 0, mas e daí, o São Paulo era bi-campeão da Libertadores! Êta pé-frio bom esse! Novamente, Mundial a vista.

Mundial Interclubes, 1993, Tóquio. O São Paulo enfrentaria a máquina que era o time do Milan, talvez um dos maiores times europeus de todos os tempos, um time que metera 4 x 0 no Barcelona na final da Champions League. Contava com uma defesa perfeita, com Rossi, Panucci, Costacurta, Baresi e Maldini. Uma vitória que viria a ser épica, ainda mais da forma com que foi conquistada.
O São Paulo saiu na frente com Palhinha aos 19' do 1° tempo. Massaro empatou aos 3' do 2° tempo. Aos 14', Cerezo recoloca o São Paulo em vantagem. Aos 36', Papin empata novamente para os milanistas. Até que, aos 41', num lance absolutamente fortuito, Müller sai para dividir com Rossi, o goleiro rebate a bola, que toca no calcanhar de Müller e entra. Müller nem viu a bola entrando, só a viu dentro do gol. A partir daí foi apenas administrar o placar e comemorar, éramos bi-campeões mundiais!! Obrigado, pé-frio!

Times-bases:
Milan: Rossi, Panucci, Costacurta, Basesi e Maldini; Albertini, Donadoni, Desailly e Massaro; Papin e Raduciou. Téc.: Fabio Capello.
São Paulo: Zetti, Cafu, Válber, Ronaldão e André Luis; Doriva, Dinho, Cerezzo e Leonardo; Palhinha e Müller. Téc.: Telê Santana.

O São Paulo conquista ainda nesse ano a Supercopa da Libertadores, vencendo o Flamengo, e a Recopa Sulamericana, vencendo o Cruzeiro. No ano seguinte, perde a Libertadores nos pênaltis para o Vélez Sarsfield, da Argentina, mas volta a vencer a Recopa, diante do Botafogo(jogo disputado em Kobe, Japão) e vence a CONMEBOL, time do famoso "Expressinho", que eliminou o Corinthians na semifinal e venceu o Peñarol na final, num fantástico 6 x 1 no primeiro jogo (Rogério Ceni, Claudemir, Bordon, Nelson e Marcelo Alexandre; Ronaldo Luis, Emerson, Marcelo Pereira e Juninho Paulista; Caio e Denílson. Téc.: Muricy Ramalho).

Trabalhou no São Paulo até 1996, onde uma isquemia cerebral o afastou do time. Em 2003, tem uma parte da perna amputada. Com dificuldades pra se locomover e falar, Telê Santana vai tendo seu estado agravado com o tempo. Em março de 2006, é internado com uma grave infecção no intestino. E no dia 21 de Abril de 2006, dia de outro mineiro, Tiradentes, Telê Santana nos deixa. Não temos mais a sua presença dentre nós, o seu sorriso, seu mau humor engraçado, sua filosofia como treinador, mas isso passa, com o tempo a saudades ameniza um pouco. Mas o homem, o cidadão que o senhor ensinou não só aos jogadores que esteve sob Seu comando, mas a toda pessoa que o conheceu, nem que seja pela TV, isso é para sempre. Valeu, Mestre.


















Olê, Olê, Olê, Olê, Telê, Telê. Olê, Olê, Olê, Olê, Telê, Telê.


E rompe-se o fio de esperança.

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