18 de setembro de 2009

Bomba: jogadores são seres humanos

O título pegará muitos de surpresas. Especialmente os da nossa querida terra, o vulgo "país do futebol".

Será que não estamos precisando de uma aula sobre o que realmente é torcer para nossos times? Não passou da hora de exterminar a frase: "Jogador de futebol tem que conviver com a pressão da torcida"? Ou então o babaca: "Eu pago ingresso e tenho direito de vaiar"?

Jogador de futebol é figura pública sujeito à opiniões, sejam boas, ruins ou tendenciosas. Mas se esquece que estamos falando de seres humanos também, como qualquer outro, que tem no futebol o sustento de sua esposa, filhos, pais ou até mesmo de toda a família.

Panathinaikos e Galatasaray jogavam pela Liga Europa, em Atenas. Os turcos venciam por 3 x 0 em plena arena rival, e os torcedores do Panathinaikos cantando, vibrando, fazendo coreografia nas arquibancadas. Isso é torcer, isso é amar o time, é se dar conta que, antes de serem jogadores, são seres humanos que certamente estão dando o seu melhor ali.



Uma imagem dessas, aqui no Brasil, só em jogos decisivos. Aí é fácil torcer.


Fabinho Capixaba pegava na bola e era vaiado pela torcida do Palmeiras. Vaiavam um jogador que vestia a camisa do time que dizem amar, torcer. Qual a probabilidade de um jogador, vaiado pela própria torcida, jogar bem? Por mais fraco que seja um jogador do seu time, grite o nome dele, incentive. Com tranquilidade e confiança, todo esforço é recompensado, e um dia será ele a fazer-lhe comemorar uma vitória aos 48 do segundo tempo.

Schalke 04 e Wolfsburg jogavam pela Bundesliga, na casa do primeiro. O jovem grego Pliatsikas, de apenas 20 anos, errava lance após lance, isolava chutes, errava passes. Em nenhum momento houve vaias. Fosse aqui, ao primeiro chute errado teria gente gritando: "Puta que pariu, tira esse filho da puta do time!". Não dá pra entender.

A torcida do São Paulo - ainda que uma minoria - consegue não gritar o nome de Richarlyson, um dos grandes jogadores do time, por questões homofóbicas. Colocam o seu preconceito acima do time. Time que dizem amar, que até matam por ele...

A torcida do Cruzeiro conseguiu vaiar o time numa FINAL de Libertadores. É inacreditável.

Há milhões de "donos da verdade" no Brasil. Se a seleção brasileira de qualquer esporte perde, começam os: "Esse cara não presta, tinha que fazer isso, isso e isso".
Hoje, Thomas Bellucci foi derrotado por Nicolás Lapentti na Copa Davis. O paulista recentemente ganhou o ATP de Gstaad, após cinco anos de lacuna de títulos brasileiros no tênis. Mas hoje perdeu para o equatoriano, e já voltaram os adjetivos amáveis para com um esportiva brasileiro, como: "Moleque de merda", "Desiste de jogar tênis, seu bosta".

Aliás, o tênis é um capítulo interessante. Brasileiro gostou de tênis enquanto Gustavo Kuerten esteve no auge, vencendo três vezes Roland Garros e uma vez a Masters Cup. Graças a Guga, Fernando Meligeni, que já jogava antes de Kuerten, passou a ser conhecido. Pois a carreira do catarinense chegou ao fim, assim como a atenção do brasileiro ao tênis. E querem reclamar quando um Bellucci da vida é derrotado...

Ainda no tênis, o argentino Juan Martin Del Potro acabou de vencer o US Open, um dos quatro Grand Slams da temporada. A festa em sua chegada à Argentina, especialmente a Tandil, sua cidade-natal, sinceramente nunca vi igual. Argentino sim sabe o que é torcer, incentivar, mas quando alguém fala isso há sempre os simpatiquíssimos brasileiros que já gritam: "Brasil penta campeão!!".



Outro exemplo? César Cielo. Por enquanto, cada brasileiro é apaixonado por natação e se sente vitorioso, uma parte do sucesso de Cielo, mas quando o paulista deixar de vencer uma competição, quem perderá é ele. E claro, os senhores donos da verdade dirão que "o sucesso subiu à cabeça dele" ou "vai treinar nos Estados Unidos, seu americanozinho"

Enquanto para brasileiro o esporte for uma maneira de se auto-afirmar, vai ser sempre assim.

Um comentário:

Unknown disse...

Brasileiro é assim mesmo, vive de resultados. Se o time ganha, é o melhor do mundo, se perde, ninguém presta. Temos muito o que aprender, até mesmo com os argentinos.

Gostei do blog e do post. E obrigada por visitar o meu ;)