31 de maio de 2011

Os vacilos táticos de Alex Ferguson contra o Barcelona

A final da década. Assim Alex Ferguson chamou a final da Liga dos Campeões 2011 entre Barcelona e Manchester United. Motivos para isso não faltavam: vencedores nacionais na temporada, donos de três títulos continentais e, das últimas seis finais, quatro tiveram a presença de ao menos um deles, sendo a de 2009 um duelo direto, onde os catalães levaram a melhor.

Passada a partida e, diante da facilidade com que o Barça fez 3 a 1, ficou um sentimento não admitido diretamente, dentro do inconsciente de cada um que assistiu, de certo constrangimento, de uma quase compaixão com o lado inglês, tamanha sua falta de argumentos pra discutir o confronto, a ponto do gol de Wayne Rooney, após Pedro Rodríguez abrir o placar, ter dado uma sensação de alívio, de que haveria um jogo equilibrado no segundo tempo.

Não houve. A primeira metade de etapa final da equipe de Josep Guardiola foi de se guardar na memória pro resto da vida. Os gols de Lionel Messi e David Villa pareciam meras formalizações de um estilo de jogo fantástico e inédito na história do futebol.

A superioridade foi tão grande que é irresistível se fazer a pergunta: não dava pro Manchester United ter feito algo melhor?

Dava. Provavelmente nada que levasse o troféu para Old Trafford, de fato. Mas, após transformar os Red Devils em potência mundial, é difícil buscar na memória uma partida onde Sir Alex mostrou-se tão confuso em praticamente todas as suas decisões e incapaz de mudar o panorama do embate.

Olhar tático:
O ponto chave da discussão é a questão tática. Treinadores que optam por não mexer na disposição tática pra se adaptar ao esquema adversário dizem que o futebol é uma imposição de estilo, portanto não deve se adequar ao oponente. De acordo. Mas como alguém vai conseguir impor seu estilo sobre o Barcelona? Ao menos atualmente, não tem jeito.

A opção de mudar sua equipe, ainda que doa o ego para treinadores de enorme reputação, é a melhor para enfrentar o Barcelona. José Mourinho fez isso, Ferguson não. Ambos perderam? Sim. Mas não custa lembrar que o Real Madrid empatou uma e ganhou outra da série de quatro partidas que fez contra os culés, e final de Liga dos Campeões é em apenas um jogo.

Tática difícil de parar:
O setor mais crítico de se marcar o Barcelona é a intermediária defensiva, e aqui tem todo o dedo de Guardiola. Lionel Messi já era craque quando atuava na direita no 4-3-3, sempre entrando em diagonal, mas Pep teve a sensibilidade de deixar o argentino centralizado, mais perto do gol, como um falso centroavante, ao mesmo tempo em que Pedro e David Villa, com mais vocação de atacantes, eram agora os que jogavam pelos lados. Resumindo: com os dois últimos entrando nas costas da defesa, exige-se dos laterais, além de uma grande noção de marcação diagonal, que eles praticamente não subam ao ataque, enquanto Messi volta até a intermediária e, junto com a genialidade dos passes de Xavi Hernández e Andrés Iniesta, estruturam dezenas de ataques por partida.

Note que, neste esquema, não tem aquela de "zagueiro tal pega atacante tal"; a dupla de zaga fica sem quem diretamente marcar, por isso parece sempre que todos que enfrentam o time espanhol está com jogador a menos. Uma solução é recuar a linha de defesa, diminuindo o espaço dela pro goleiro, e é assim que o Barcelona tem mais posse de bola que seus adversários desde 2008.

O exemplo de José Mourinho:
Voltemos ao United. Dito tudo isso, pra jogar contra o Barça, você precisa de um volante centralizado. Apenas um. Jogar com dois, em um 4-2-3-1, não dá o "encaixe", pois, se você vai jogar mais recuado, como prega o bom senso diante da melhor equipe do mundo, ter dois volantes significa espaços ou para Xavi ou para Iniesta. Isso não significa marcação individual em Messi. No jogo pelo Campeonato Espanhol, quando Mourinho surpreendeu ao colocar Pepe de volante em um 4-1-4-1, a marcação sobre o argentino dobrava: além do luso-brasileiro, o zagueiro Ricardo Carvalho saía no combate direto a ele, deixando Raúl Albiol na sobra. Com isso, o Real conseguia dar "função" à zaga. Embora uma postura bastante defensiva e abstendo-se da posse de bola, funcionou, Pepe saiu de campo como um dos jogadores mais elogiados no 1 a 1 em Madrid.

E sobravam Khedira e Xabi Alonso, dois bons marcadores, batendo de frente com Iniesta e Xavi, respectivamente. Daí a dar certo entra, claro, a parte técnica de cada atleta, mas a marcação estava encaixada, incluindo a inversão dos pontas, com Ángel Di María atuando aberto pela esquerda, para marcar Daniel Alves, tirando de Cristiano Ronaldo tal tarefa.

Para aumentar a estranheza da postura de Ferguson, na partida de ida das oitavas de final contra o Olympique de Marseille, o 4-1-4-1 foi o esquema adotado pelo treinador, com Michael Carrick de volante e uma linha com Nani, Darron Gibson, Darren Fletcher e Rooney, e Dimitar Berbatov na frente. A partida terminou sem gols, em solo francês. E se há uma equipe no mundo para você alterar sua disposição tática, convenhamos não ser a francesa.

Três erros fatais:
Contra o Barcelona, o Manchester fez tudo errado: erro na distribuição tática, erro na tática e na escalação. Ferguson montou um 4-4-1-1, com duas linhas de quatro e, embora os meias centrais atuassem um pouco mais recuados dos extremos, não continham a intermediária de defesa. Pra piorar, não havia uma definição entre Ryan Giggs e Park Ji-Sung sobre quem era o meia esquerda e quem era o meia central da esquerda. Daniel Alves adorou.

Por fim, o erro de escalação: quer manter-se fiel ao atual esquema tático? Tudo bem, mas notem que, contra o time francês, o meia direita foi Nani, líder de assistências da Premier League, a quem Ferguson preteriu para escalar Antonio Valencia. Contra o Marseille, o português batia de frente com Gabriel Heinze, um zagueiro pela esquerda, tal qual é Éric Abidal. Será que a contribuição de marcação do equatoriano - evidenciada em seu exagerado número de faltas na partida - valia mais a pena do que a imprevisibilidade do português? No 4-4-1-1, sim, o que só aumenta a falha do treinador escocês.

Não era jogo para Giggs e Javier Hernández juntos. O galês tem 37 anos, não funcionaria nem marcando Xavi, nem Daniel. Se fosse pra tê-lo no time, seria na função de '1', à frente da linha de quatro e, com isso, quem sairia do time era Chicharito, adiantando Rooney para o ataque e entrando com Fletcher na linha de quatro.

Quer manter-se fiel a atual escalação? Tudo bem, a escolha por Hernández se justifica por sua ótima temporada, mas o que explica a opção de não ter Berbatov, artilheiro do Campeonato Inglês, no banco de reservas, pra dar lugar a Michael Owen? Sem o búlgaro, nem a opção da bola aérea Ferguson tinha, ainda mais sabendo que o zagueiro ao lado de Gerard Piqué seria ou Carles Puyol ou Javier Mascherano, dois jogadores baixos. Das decisões que Ferguson tomou, essa foi a menos importante, mas a mais inexplicável.

Nada tirará o total mérito da conquista do Barcelona de Pep Guardiola e nem manchará a fabulosa carreira de Alex Ferguson no Manchester, mas o troféu da Liga dos Campeões poderia ter sido mais bem disputado.

5 comentários:

Cleber Soares disse...

Renato, muito boa analise.
mas a verdade é que o Barça não deu chance para os ingleses, sem contar a bobeira que os gringos deram em não marcar o Barça de forma mais dura.
De longe o Barça é o melhor time do mundo.

BLOG DO CLEBER SOARES
www.clebersoares.blogspot.com

Claudio Henrique disse...

Excelente análise. Não éa primeira vez que ele peca contra o Barcelona. Não é tão difícil quanto parece bater os espanhóis. Isso é possível se vc encaixar corretamente as peças.

abraços!

http://wwwfanaticosporfutebol.blogspot.com/

Rafaela Andrade disse...

OI, Andre quanto tempo vc não passava por lá e nem eu por aqui. Essa correria do dia a dia é enlouquecedora, a gente acaba não conseguindo interagir como gostaríamos né?

Cada vez que passa eu entendo mais de vôlei e menos de futebol internacional... rsss

Um grande abraço pra vc!!!
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Cadê Meu Camisa 10? disse...

André nem ouso acrescentar algo a análise, mas como você disse, Mourinho mostrou porque é o melhor técnico do mundo, assumiu sua fraqueza perante ao monstro Barcelona.

Afirmo sem medo de errar, se Mourinho tivesse Cambiasso ao invés de Pepe, ele seria campeão da Champions mais uma vez.

Abs,
www.cademeucamisa10.com

Anônimo disse...

Oi André,

agora que eu vi que você voltou a postar! Achei legal a sua análise do jogo, o United realmente deu muito espaço para os cataães trocarem passes. Sem querer gabar né, quem foi o único time mesmo que ganhou dos dois finalistas da Champions em casa na temporada? :P kkk espero que na próxima façamos melhor e ganhemos pelo menos um título.

Abraço
allaboutfootballandarsenal.blogspot.com