8 de setembro de 2012

Seleção é momento e renovação é com jovens: duas falácias que Mano acredita

Em linhas gerais, falácia pode ser entendida como uma afirmação sem profundidade, de argumentação vazia e muitas vezes usada para persuadir. Quando dita por quem tem poder de formar opinião, aliada à preguiça de pensar, vira uma verdade.

No futebol que envolve a Seleção Brasileira atual há duas: seleção é momento e renovação se faz apenas com jovens. Por acreditar em ambas é que Mano Menezes, após mais de dois anos como treinador do Brasil, não consegue montar um time.

Com esse período como técnico, Mano já deveria ter fechado um grupo de uns 35 a 40 jogadores. Se não há período de treinamentos, convocar novos nomes a cada lista dificulta ainda mais o entrosamento. Os recentes chamados de Cássio e Arouca passam a sensação de falta de rumo.

Seleção não pode ser só momento, fosse assim Diego Forlán não teria ido à Copa América de 2011 e sido tão essencial no título do Uruguai. Não estava em boa fase, mas era jogador de confiança de Oscar Tabárez. Se seleção for apenas momento, então basta jogar bem no 1º semestre de 2014.

Já que Forlán foi citado, vem a outra falácia: renovação com jovens. Essa é uma má e comum interpretação do verbo renovar. Não significa tirar um jogador de 34 pra colocar um de 20. Após o fiasco na citada Copa América, a Argentina contratou Alejandro Sabella, que renovou o elenco com Hugo Campagnaro (32), Rodrigo Braña (33), Lucas Biglia (26), Pablo Guiñazú (34), Rodrigo Palacio (30) e agora Hernán Barcos (28). Hoje, a albiceleste tem um time em menos tempo que o Brasil.

No caso da Seleção, as transições bem feitas foram as de Daniel Alves, Thiago Silva e Marcelo, recebendo o acréscimo de David Luiz. Não à toa é a defesa o setor mais forte, aquele que sabemos escalar. No gol, embora não tenha um “número 1” unânime, não se foi em busca de um jovem pra “renovar”. Os demais setores sofreram com a mania do 8 ou 80, de uma seleção envelhecida em 2010 para uma de garotos.

É no setor ofensivo onde mais se observa isso. Começou com Paulo Henrique Ganso (20, à época de sua primeira convocação), alçado ao posto de titular assim que a Copa terminou. Com o declínio do santista, a posição e obrigação de ser a referência do meio campo do Brasil caíram em Oscar (20). Não vai dar conta não porque seja mau jogador, mas sim por ser peso de mais.

O mesmo vale para os mais avançados. Lucas é um excelente talento revelado pelo São Paulo, mas tudo com ele está sendo precoce demais. Neymar, em tese quem mais estava pronto para a Seleção, sente a falta de companheiros mais experientes ao seu lado, com quem dividir a responsabilidade. Pense na diferença que faria a ele ter o Kaká ao seu lado. Mas Mano crê na primeira falácia.

E ainda tem Leandro Damião, que sentiu a pressão da “torcida” no Morumbi e tentou meter uma carretilha pra calar a boca. Normal, é jovem e muito bom centroavante, mas Mano crê na segunda falácia.

Hoje o Brasil parece uma equipe sub-23 com responsabilidade de ganhar Copa do Mundo. Oscar, Lucas, Neymar e Damião têm cerca de 4 anos de profissionais (!), é loucura ter toda uma linha ofensiva formada por eles. Certos nomes não podem ficar fora, o que não significa lhes garantir titularidade.

Júlio César pode ser um reserva de confiança para Diego Alves, daqueles que, se o titular se machuca na Copa, você sabe que pode contar. Daniel Alves foi reserva de Maicon por vários anos, agora basta inverter a hierarquia ao invés de nomes como Rafael e Danilo.

Lúcio, hoje na Juventus, não pode ser descartado pelo mesmo motivo de Júlio César, embora hoje tenha no mínimo Dedé à sua frente na lista de suplentes.

Fico imaginando a cabeça de um adversário do Brasil na Copa, segurando o empate no 2º tempo, aí olha para a lateral e está o Kaká e o Ronaldinho batendo os calcanhares nas mãos, prestes a entrarem em campo. Uma sensação de “Pô, já estamos mortos de tanto marcar e olha os caras que vão entrar”.

Robinho sofre de comentários extremistas. É um jogador nota 6, com lampejos de 8, suficiente pra estar no grupo, inclusive para deixar Neymar no banco em alguns amistosos. O atleta santista, na carreira inteira, nunca experimentou essa sensação. Ela ajuda a crescer, tira a sensação de “como estou já está bom”.

Miroslav Klose tem 34 anos e segue convocado para a seleção alemã. Por que essa necessidade de até o centroavante ser jovem? Fred e Luis Fabiano, com experiência europeia, ajudariam demais Leandro Damião, não dá pro seu reserva imediato ser Alexandre Pato.

Se a intenção do Mano é preparar o time pra levantar o hexa em Moscou'18 então está sendo ótimo o trabalho - aliás, sortudo o treinador que assumir a Seleção após a Copa no Brasil, pegará um time voando. Como creio que sua meta seja 2014, o trabalho está muito aquém do necessário.

3 comentários:

Hugo Becker disse...

matou a pau no último parágrafo. É o argumento que tenho defendido, e que conversamos há pouco tempo também. Se a ideia é preparar para 2018, tá fantástico, o time chegará lá pronto pra levar o título até com certa tranquilidade. Mas pra 2014 o trabalho está lamentável e atrasadíssimo. Faltam menos de dois anos pra Copa e o Brasil ainda não tem um time, a responsabilidade está toda em cima de uma molecada acostumada a ser mimada nos seus clubes. Desconhecem o poder da palavra superação e o conforto que provoca a palavra experiência. E quanto mais o relógio anda, mais se cria uma nova situação de desgaste: se daqui pra frente Mano resolver convocar nomes mais experientes como Kaká, RG, Lúcio, etc, a imprensa e a própria torcida passarão a vê-los como salvadores da pátria, ou seja: jogadores que não vivem nem de longe o melhor de suas carreiras serão pressionados a salvar o desempenho da seleção.

É, tá cada vez mais complicado, cada vez mais um nó mais difícil de ser desatado...

- disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
- disse...

O Mano Menezes adotou uma filosofia de trabalho muito lenta. Acho certo renovar, mas não equilibrar com experiência é simplesmente ridículo. Estamos a menos de um ano pra Copa das Confederações e ele não demonstrou ter uma base. E isso faz com que o torcedor não ligue pra seleção. A torcida só sabe que tem o Neymar, mas os outros jogadores não.

Acho difícil ele conseguir montar um time pra Copa das Confederações e pra Copa se ele manter esse ritmo de trabalho.

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