21 de junho de 2008

Eurocopa 2008 (8)

Portugal 2 x 3 Alemanha
Futebol Momento x Futebol Tradição. Assim poderia ser definida esta partida. E a tradição alemã, equipe com mais títulos europeus (três), venceu os portugueses por 3 x 2, num jogo empolgante, como a esmagadora maioria dos jogos dessa Euro até aqui, superando e muito todas as já boas expectativas pra competição. Os gramados suíços e austríacos serão lembrados por anos e mais anos.
Felipão alertou na coletiva antes da partida sobre o perigo das bolas aéreas da Alemanha, destacou dentre os mais perigosos Metzelder, Mertesacker, Ballack e Mario Gomez. E Felipão sabia do que falava. O primeiro e o último gol alemão da partida nasceu num cruzamento de Schweinsteiger, um para Klose cabecear, outro para Ballack.

A Alemanha imprimiu um ritmo intenso desde o primeiro minuto. Aos 26, já vencia por 2 x 0. Felipão então trocou João Moutinho por Raúl Meireles, pra tentar melhorar a marcação. Os portugueses, sem o brilho de Cristiano Ronaldo e com o patético Simão, descontou aos 40 minutos, após rebote de Lehmann em chute de Ronaldo, Nuno Gomes empurrou pras redes. O segundo tempo prometia ser ainda melhor.

E foi. Portugal viu-se na obrigação de ir pra cima, mas ainda contava com desempenhos discretos de C.Ronaldo e Deco. Mas a equipe chegava com mais perigo, finaliza mais, tinha mais a posse de bola. Mas então uma punhalada: cruzamento na área de Schweinsteiger, Ricardo sai pessimamente do gol e Ballack, um dos melhores cabeceadores do mundo (não que seja "meia cabeceador", mas em bolas paradas ele é quase imarcável), se antecipou ao já contestado goleiro português e fez 3 x 1, num momento onde parecia que logo Portugal empataria.

Felipão resolveu colocar Nani. Penso que seria no lugar do inútil Simão Sabrosa, mas estranhamente sai Nuno Gomes. Ok, Ânderson Polga deu certo em 2002, vai saber. Portugal se lançou com tudo. Postiga entra no lugar do volante Petit. E o segundo gol sai de jogada dos reservas: Nani cruza na medida do flanco esquerdo e Postiga desconta, aos 42 minutos. O jogo ganhava contornos de drama. Portugal tinha mais 5 minutos pra empatar. Sai Klose, entra o lateral Jansen na Alemanha. Era ataque contra defesa.

E o jogo acabou. Alemanha, mostrando o peso de sua camisa mais uma vez, 3; Portugal, mostrando o não-peso de sua camisa mais uma vez, 2. Tudo bem, perder pra Alemanha não pode jamais ser chamado de decepção, mas realmente ficará o gostinho de que poderia ter avançado mais. Felipão se despede da seleção portuguesa tendo feito um trabalho magistral, um dos melhores, senão o melhor, trabalho de um técnico à frente dos Tugas. Felipão deu ao time português uma alma. Quem imaginaria há alguns anos seleções de calibre mundial temendo Portugal? Felipão talvez tenha feito algo além de ganhar títulos. Fez um país ganhar alma, confiança, orgulho de ser português. E maior prova de que títulos não são tudo é a Grécia de 2004. Ninguém teme a Grécia, mesmo com o título de 2004. Todos temem Portugal, mesmo sem títulos.

Parabéns, Luis Felipe Scolari.


Croácia 0 x 0 Turquia (prorrogação: 1x1; pênaltis: 1x3)
Não tem muito o que falar desse jogo até a prorrogação, foi um jogo duro de assistir, chato, duas equipes procurando não levar o gol ao invés de fazer. Vamos direto ao que interessa, prorrogação.
A Turquia jogou com uma raça incrível a prorrogação, como é de costume dos turcos, se vão perder, vão perder lutando. A Croácia indiscutivelmente tem mais time que a Turquia, mas se tem alguma seleção no mundo que joga com amor a camisa e ao país essa seleção se chama Turquia.

E isso ficou claro quando aos 119 minutos, no último minuto da prorrogação, o espetacular Luka Modric correu mais que o goleiro Rüstü e cruzou na área, encontrando a cabeça de Klasnic que, sem goleiro, cabeceou para as redes. Seria o gol da classificação se fosse contra o Brasil, Alemanha, França, Itália... mas era contra a Turquia, a mesma Turquia que vinha de feitos sensacionais contra a Suíça, onde virou a partida nos acréscimos, e a épica virada contra a República Tcheca, onde perdia por 2 x 0 até os 30 do 2º tempo, placar que a eliminava da Euro. Aos 42 minutos os turcos empataram, placar que levaria o jogo a uma inédita decisão por pênaltis numa fase de grupos. Mas aos 44 uma virada sensacional, inesquecível, outro gol de Nihat, como fora o segundo. E pra aumentar o drama, 3 minutos depois o goleiro Demirel foi expulso, e ja tendo sido efetuadas as 3 alterações, o atacante Tuncay foi pro gol, e ainda sim, com toda raça e determinação do mundo, os turcos seguraram a vitória por 3 x 2.

E a Turquia fez de novo. O jogo parecia acabado, tomar um gol faltando 1 minuto pra acabar o jogo parece surreal de se reverter. A Turquia reverteu. Simplesmente no último lance da partida, o atacante Semih Sentürk, ao qual contesto o fato de ser reserva desde o começo da Euro, fez o gol aos 121. Fez o gol e a partida acabou, em seguida. Algo poucamente visto no futebol, algo ímpar.

Os croatas foram muito, mas muito desanimados para a disputa de pênaltis. Perderam 3 das 4 cobranças. Perderam a vaga. Aliás, não perderam a vaga, a Turquia quem a ganhou. Turquia, que agora enfrenta a Alemanha na semifinal, na próxima quarta-feira.


Holanda 1 x 1 Rússia (prorrogação: 1x3)
O melhor jogo da Euro 2008 até aqui. A Holanda deu show na primeira fase, destruiu Itália e França de maneira engraçada até, parecia estar jogando contra qualquer seleção. A Rússia começou sendo goleada pela Espanha, mas pra quem viu o jogo sabe que não foi jogo pra 4 x 1, a goleada é enganosa. Depois, vitórias contra Grécia e na decisão de vaga contra a Suécia, onde o empate classificava os suecos. Vitória por 2 x 0.

Holanda e Rússia prometia ser o duelo da ofensividade. A Rússia dirigida pelo gênio Guus Hiddink, um dos melhores técnicos que já vi, senão o melhor. Levou Holanda a semifinal da Copa de 98, Coréia do Sul a semifinal de 2002 e Austrália as oitavas de final de 2006. A Holanda do trio Sneijder/Van der Vaart/Van Nistelrooy.

E pra quem esperava a Holanda partindo pra cima, deve ter se surpreendido ao ver a Rússia jogando de maneira tão ofensiva nos primeiros minutos de jogo. Mas não era surpresa alguma pra quem viu os jogos dos russos. Van der Sar precisou mostrar mais uma vez estar no auge de sua forma. Mas a Holanda da metade do primeiro tempo pra frente conseguiu equilibrar a partida. E o primeiro tempo acabou no 0 x 0 mesmo.

Pro segundo tempo, Van Basten já mexeu no time: tirou o apagado Kuyt, colocou Van Persie. E logo no primeiro lance Van Persie quase abriu o placar. Placar que foi aberto aos 11 minutos, mas pelos russos: cruzamento de Semak pela esquerda e o atacante Pavlyuchenko, que é muito bom jogador mas perde gols como poucos no universo, se antecipou a Mathijsen tocando no canto direito de Van der Sar. A Holanda, pela primeira vez, se via atrás do placar na Euro 2008.

Van Basten tirou o volante Engelaar e colocou o meia Afellay. Nada contra Afellay, é um jogador muito promissor, fez boa temporada no PSV, mas acredito que a entrada de Robben seria melhor, pois não estava fácil furar a defesa russa, um jogador com a habilidade de Robben poderia conseguir. E a Holanda foi com tudo pra cima, mas sempre preocupada com os letais contra-ataques russos, puxados pelo craque Arshavin, que fez uma partida difícil até de descrever de tão perfeita que foi.

A Holanda era toda pressão, até que conseguiu o empate. O que foi muito bom pra quem tava gostando da partida, ver mais 30 minutos desse excelente jogo. Sneijder cruzou a bola na área e van Nistelrooy cabeceou, sem chances para Akinfeev. E o tempo normal acabou assim, 1 x 1.

A lógica seria a Holanda vir com tudo pra cima na prorrogação, por estar mentalmente mais forte, mas o que se viu foi uma Rússia jogando como se fosse ela quem tivesse empatado nos últimos minutos. Um futebol de encher os olhos, de dar muito gosto de ver. Pavlyuchenko arriscou de fora da área e amassou o travessão de Van der Sar. Aos 9 minutos, Torbinski perdeu uma grande chance de gol, ao chutar fraquinho nas mãos de Van der Sar um chute de dentro da grande área. E o primeiro tempo da eletrizante prorrogação terminava.

No segundo tempo a mesma história, Rússia indo pra cima da Holanda, que talvez por ter tantos jogadores de características ofensivas em campo, se preocupou demais em não deixar espaços. E a Rússia chegou ao seu merecido gol: Arshavin, sempre ele, fez boa jogada pelo flanco esquerdo e cruzou a bola, que caiu já quase dentro do gol, mas Torbinski deu o desvio providencial e colocou os russos em vantagem, aos 7 minutos do 2º tempo do tempo extra. Gol mais do que merecido.

A Holanda precisava novamente se desdobrar em campo pra buscar o empate. E numa cobrança de lateral sensacional de Anyukov, Arshavin com uma finta de corpo espetacular deixou Ooijer pra trás e bateu para o gol. A bola ainda desviou em Heitinga e enganou o goleiro Van der Sar, aos 11 minutos do 2º tempo, um golaço, partida monstruosa de Arshavin, até aqui a melhor partida individual de um jogador.

Depois disso, a Holanda não teve mais forças pra reagir. Foi a última partida de Marco van Basten como técnico da Oranje, ele agora assume o Ajax.


Espanha 0 x 0 Itália (4 x 2 pênaltis)
A Espanha chegou embalada para as quartas de final com a melhor campanha dentre as 16 seleções. Mas isso não quer dizer nada quando se trata da Espanha, vale lembrar que na Copa de 2006 a seleção espanhola teve a melhor campanha dentre as 32 seleções e caiu na fase seguinte, diante da França. Já a Itália se classificou de maneira suada, após perder de 3 x 0 pra Holanda e empatar na segunda rodada com a Romênia, partida que se não fosse Buffon defendendo pênalti de Adrian Mutu a Itália chegaria na última rodada já sem chances de classificação.

O 0 x 0 esteve longe de ser o resultado mais justo da partida. Um 2 x 2 não seria exagero algum. Mas o mais justo mesmo era a vitória espanhola. A Espanha surpreendeu este blogueiro, que esperava uma equipe mais fechadinha, pois enfrentava a Itália e enfrentava seus próprios traumas. Mesmo não estando com a desvantagem no placar, Luis Aragonés só fez alterações pra por o time no ataque: tirou Xavi e Iniesta pra colocar Fabregas e Santi Cazorla. Do outro lado, Roberto Donadoni também tentava deixar sua equipe mais ofensiva ao tirar Perrotta e colocar Camoranesi, trocar Aquilani por Del Piero e Cassano por Di Natale. Era um jogo bonito de se ver, duas equipes procurando vencer, foi impossível não lembrar do nojento esquema do "técnico" Dunga com 3 volantes contra o Paraguai e fazer uma comparação. Mas enfim, não baixemos o nível pra falar da seleção desse pseudo-país.

A Espanha merecia a vitória nos 120 minutos. Na verdade, nos 90 já merecia. Essa geração espanhola é realmente fantástica, David Villa e Fernando Torres formam a melhor dupla de ataque dessa Euro, provavelmente a melhor dupla do mundo. Marcos Senna fez uma partida espetacular, assim como Puyol e Marchena fizeram. Enfim a sorte sorriu a Espanha. Villa, Cazorla, Marcos Senna e Fabregas converteram suas cobranças, enquanto Güiza desperdiçou. Pela Azzurra converteram Fabio Grosso e Camoranesi, enquanto De Rossi e Di Natale desperdiçaram.

A Espanha enfrentará agora a sensação russa, seleção a qual bateu por 4 x 1 na primeira fase. E muito se engana aquele que achar que a Espanha leva alguma vantagem por causa disso, porque quem viu essa partida sabe que o 4 x 1 foi enganoso, a Rússia fez uma bela partida, mas desperdiçou inúmeras chances, coisa que a Espanha aproveitou muito bem.


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